Thursday, December 28, 2006

HORA DE OLHAR PARA SI PRÓPRIO!

Mais um ano que se vai... mais uma vez, hora de parar e refletir o que impulsionou a sua vida até aqui. O que te faz respirar? O que te faz mover? Acho que é hora de despertar, olhar para si próprio e deixar de se preocupar com a vida alheia. Seja você mesmo. Pare de se preocupar com o que vão pensar de você. Aproveite o ano novo e se descubra, se encontre, se realize!

Agora, abaixo, um texto de A. Jabor, com algumas alterações poéticas de Soares Feitosa. É longo, mas vale a pena ler.

O ano de ver o primeiro filme de minha vida, o "Ladrão de Bagdá", e ficar sonhando com as coxas da odalisca no tapete voador, o ano dos balões no céu, o ano do Mercury "grená" de meu pai brilhando na luz da rua, o ano do cuspe, o ano da porrada na esquina, o ano dos palavrões, o ano da "merda" e da "puta que pariu", o ano da inveja, o ano da bicicleta, o ano da primeira namorada que me tratava como nada, o ano de temer a Deus e de contar meus crimes aos padres negros de quem eu beijava a mão, o ano em que um padre me deu um beijo na boca e eu fugi com pânico na alma, o ano do Porcolino, do Pernalonga, o ano do Hortelino Trocaletra, das mil e uma noites, o ano da mula-sem-cabeça e do mendigo que dava mijo para a mãe, o ano da camisa-de-vênus boiando na beira da praia, o ano do negro comendo a empregada no quarto de passar roupa, o ano da febre, o ano da violência dos colegas de colégio, o ano dos padres jesuítas sofrendo de solidão nas clausuras e o ano das lâmpadas tristes das noites do colégio, o ano das velas de cera na igreja, o ano dos paramentos, o ano do coroinha sem fé, o ano do covarde, o ano do perigo de ser currado nos fundos do colégio, o ano do soco na cara do mais forte e do sangue no nariz do valentão, o ano da descoberta do orgulho, o ano do Tarzan, o ano do Super-Homem, o ano da porra, o ano da punheta de esguicho que ia até o teto de ladrilho por causa da primeira mulher de biquíni na praia, o ano da punheta pela empregada de peitos grandes e que deixava quase tudo, o ano da dor nos rins, o ano de entrar no porão com a menina, o ano de sentir o gosto de cuspe da menina, o ano de sentir o cheiro do entrepernas da menina e ficar com aquele cheiro até hoje, o ano da primeira mulher e, antes da primeira mulher, o ano da descoberta da literatura e de Rimbaud e o ano de ficar escrevendo o dia inteiro numa febre de descobrir qualquer coisa que ainda acho que vou achar, o ano agora sim, da primeira mulher, uma aeromoça louca da Panair que parecia uma odalisca caída do céu, o ano do meu corpo e do corpo da mulher, o ano das lágrimas quentes, o ano da solidão, o ano das pernas cruzadas dos primeiros puteiros visitados, o ano do Mangue, da indescritível visão do Mangue que só Segall conheceu, com as mil mulheres tremendo a língua para fora e de calça e sutiã nas calçadas, o ano dos bordéis antigos da luz mortiça, o ano das coxas, dos peitos, o ano cabeludo, o ano oleoso, o ano das peles, o ano dos vasos de louça, o ano de nada entender, o ano da gonorréia, o ano de Thereza e de comer o primeiro amor e de flutuar de paixão a um palmo das calçadas de Copacabana, o ano da lua dourada, do sol vermelho, o ano de Ipanema, de Leila Diniz, o ano dos gritos da mulher amada no colchão sujo e esfiapado que era um aparelho do Partido Comunista numa noite de chuva, o ano do amor e da revolução, as duas coisas se confundindo ("serão as bombas ou meu coração batendo?" diria o Bogart em "Casablanca"), o ano da UNE pegando fogo, o ano dos exilados, o ano de Corisco, o ano de Tom e Vinicius, o ano do "Carcará", o ano do cinema novo da noite negra do Ato 5, o ano que não terminou, o ano da boca fechada, o ano da boca no cano de descarga, o ano do nervo do dente exposto na boca do torturado, o ano das unhas arrancadas, o ano dos gritos, o ano dos guerrilheiros suicidas, o ano de cortar a barriga com a faca de bambu, o ano de cortar os pulsos com gilete enferrujada, o ano das cabeças muito loucas, o ano de viver perigosamente, o ano da mescalina e do ácido, o ano das pernas e dos braços virando cobras na "bad trip" da beira da praia, o ano das ondas vermelhas e céus tangerina, o ano de Copacabana virando gelatina colorida, o ano de Janis Joplin de porre comigo num puteiro baiano cantando ponto de candomblé, o ano da esperança nova, o ano de Nelson Rodrigues, o ano das filhas nascendo dentro de um buraco estrelado, o ano da esperança de sentido, o ano da inocência, o ano da ingenuidade, o ano do leite, o ano do ventre molhado, o ano dos quartos escuros, o ano da vida, o ano do sol, o ano do jambo vermelho, o ano das formigas, o ano das bonecas, o ano do olho furado, o ano de ficar louco, o ano do corno, o ano do babaca, o ano de comer mulher, o ano de chorar, o ano de aprender a viver de novo, o ano do "vamos ver", o ano do "que será o amanhã?", o ano do cachorro, o ano da vaca louca, o ano da cachorra no ar, o ano da beira do abismo, o ano da expectativa, o ano dos adiamentos, o ano da esperança, o ano que ainda não começou e acaba hoje. 2006, o ano que vai começar em 2007...

FELIZ ANO NOVO!!!!

Thursday, December 21, 2006

LIVRO DA TRIBO 2007



Para quem não conhece ou ainda não viu, o livro/agenda 2007 da Editora Tribo está mais do que perfeito. Lindas citações, imagens interessantíssimas, capa em papel reciclado com decoupage e um monte de coisinhas fofas para deixar nosso ano novo mais poético e mais colorido. Dentre muitas frases publicadas, vai uma só para dar gostinho de quero mais...
"A ciência é grosseira, a vida é sutil, e é para corrigir essa distância que a literatura nos importa".
[roland barthes]

Saturday, December 9, 2006

O Perfume


Estou lendo "O Perfume" (Patrick Suskind) que desde à aquisição do livro tem sido bem interesante. Outro dia, passeando nas ruas de Santos, parei num SEBO, que tinha um senhor de cara simpática atendendo e perguntei apenas por curiosidade se tinha o tal livro. Ele respondeu que sim, porém estaria bem usado, com folhas amarelas, mas não estava rasgado. Perguntei o preço e ele docemente me disse: pode levar, não precisa pagar nada. Achei uma cortesia maravilhosa, um gesto muito bacana para os dias de hoje.
Estou na página 51 (são 255 no total) e já faço questão de recomendar essa obra surpreendente. A trama acontece entre Paris e Provença na metade do sec. XVIII. Trata-se de Grenouille, que foi parido em meio aos peixes mortos e cresceu com seu olfato super aguçado. O próprio Grenouille não tem cheiro, mas seu olfato incomum lhe permite destinguir aromas com uma precisão extraordinária. É essa qualidade que o faz aprender a dominar a arte da perfumaria. Mas não é fama ou fortuna que ele ambiciona: quer, isto sim, poder maior sobre as pessoas, o poder da sedução que - ele bem o sabe - os odores exercem diretamente sobre as almas dos homens. Assim, dedica-se obsessivamente à preparação de um perfume irresistível, o aroma perfume e ideal, capaz de arrebatar incontrolavelmente quelaquer ser humano. E, para isso, não hesita diante de nada. Nem do crime.

Tuesday, December 5, 2006

Seres humanos descartáveis

Antes de mais nada, quero agradecer a corrente positiva que me fez faturar um emprego maravilhoso ao lado de pessoas criativas e inteligentes... Valeu mesmo!
Bom, quero comentar nesse post sobre uma música antiga que cansei de ouvir na adolescência, mas nunca procurei saber a tradução. Falo da Logical Song, do Supertramp. Sonzaço, com uma letra que nos leva à uma viagem interna e uma interrogação gigante toma conta de nossas cabeças: quem, afinal, somos nós? Por que nos mostram um mundo onde podemos ser cínicos, doentes, criminosos?
"Quando eu era jovem, parecia que a vida era tão maravilhosa, um milagre, oh ela era tão bonita, mágica. E todos os pássaros nas árvores, eles cantavam tão felizes, alegres, brincalhões, me olhando. Mas aí eles me mandaram embora, para me ensinar a ser sensato, lógico, responsável, prático. E mostraram um mundo onde eu poderia ser dependente, doente, intelectual, cínico. Tem vezes, quando todo mundo dorme, as questões correm profundas demais para um homem tão simples. Por favor, me diga o que aprendemos. Eu sei que soa absurdo, mas por favor me diga quem eu sou (achei isso perfeito!!!!). Eu digo: agora cuidado com o que você diz, ou eles estarão te chamando de radical, liberal, fanático, criminoso. Você não vai assinar seu nome, gostaríamos de sentir que você é aceitável, respeitável, apresentável, um vegetal..."