Tuesday, July 24, 2007

Amor é prosa, sexo é poesia.





Amor é propriedade. Sexo é posse. Amor é a lei; sexo é invasão. O amor é uma construção do desejo. Sexo não depende de nosso desejo; nosso desejo é que é tomado por ele. Ninguém se masturba por amor. Ninguém sofre com tesão. Amor e sexo, são como a palavra farmakon em grego: remédio ou veneno -- depende da quantidade ingerida.O sexo vem antes. O amor vem depois. No amor, perdemos a cabeça, deliberadamente. No sexo, a cabeça nos perde. O amor precisa do pensamento. No sexo, o pensamento atrapalha.O amor sonha com uma grande redenção. O sexo sonha com proibições; não há fantasias permitidas. O amor é o desejo de atingir a plenitude. Sexo é a vontade de se satisfazer com a finitude. O amor vive da impossibilidade -- nunca é totalmente satisfatório. O sexo pode ser, dependendo da posição adotada. O amor pode atrapalhar o sexo. Já o contrário não acontece. Existe amor com sexo, claro, mas nunca gozam juntos.O amor é mais narcisista, mesmo entrega, na "doação". Sexo é mais democrático, mesmo vivendo do egoísmo. Amor é um texto. Sexo é um esporte. Amor não exige a presença do "outro". O sexo, mesmo solitário, precisa de uma "mãozinha". Certos amores nem precisam de parceiro; florescem até na maior solidão e na saudade. Sexo, não -- é mais realista. Nesse sentido, amor é uma busca de ilusão. Sexo é uma bruta vontade de verdade. O amor vem de dentro, o sexo vem de fora. O amor vem de nós. O sexo vem dos outros. "O sexo é uma selva de epilépticos" (N. Rodrigues). O amor inventou a alma, a moral. O sexo inventou a moral também, mas do lado de fora de sua jaula, onde ele ruge.O amor tem algo de ridículo, de patético, principalmente nas grandes paixões. O sexo é mais quieto, como um caubói -- quando acaba a valentia, ele vem e come. Eles dizem: "Faça amor, não faça a guerra". Sexo quer guerra. O ódio mata o amor, mas o ódio pode acender o sexo. Amor é egoísta; sexo é altruísta. O amor quer superar a morte. No sexo, a morte está ali, nas bocas. O amor fala muito. O sexo grita, geme, ruge, mas não se explica.O sexo sempre existiu -- das cavernas do paraíso até as "saunas relax for men". Por outro lado, o amor foi inventado pelos poetas provençais do seculo XII e, depois, relançado pelo cinema americano da moral cristã. Amor é literatura. Sexo é cinema. Amor é prosa; sexo é poesia. Amor é mulher; sexo é homem -- o casamento perfeito é do travesti consigo mesmo. O amor domado protege a produção; sexo selvagem é uma ameaça ao bom funcionamento do mercado. Por isso, a única maneira de controlá-lo é programá-lo, como faz a indústria da sacanagen. O mercado programa nossas fantasias.Não há "saunas relax" para o amor, onde o sujeito entre e se apaixone. No entanto, em todo bordel, finge-se um "amorzinho" para iniciar. O amor virou um estímulo para o sexo.O problema do amor é que dura muito, já o sexo dura pouco. Amor busca uma certa "grandeza". O sexo é mais embaixo. O perigo do sexo é que você pode se apaixonar. O perigo do amor é virar amizade. Com camisinha, há "sexo seguro", mas não há camisinha para o amor.O amor sonha com a pureza. Sexo precisa do pecado. Amor é a lei. Sexo é a transgressão. Amor é o sonho dos solteiros. Sexo, o sonho dos casados.Amor precisa do medo, do desassossego. Sexo precisa da novidade, da surpresa. O grande amor só se sente na perda. O grande sexo sente-se na tomada de poder. Amor é de direita. Sexo, de esquerda -- ou não, dependendo do momento político. Atualmente, sexo é de direita. Nos anos 60, era o contrário. Sexo era revolucionário e o amor era careta.E, por aí, vamos. Sexo e amor tentam mesmo é nos fazer esquecer a morte. Ou não; sei lá...
[arnaldo jabor]

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5:

Blogger Yara said...

Putz.. que belo texto sobre essas duas coisas que mais causam polemica ao tentar explica-los.. PArabens..Alias todo o blog é muito bom..
Beijuxx

9:30 PM  
Blogger .profusionn said...

também não sei...

:)

11:12 PM  
Blogger R Lima said...

Encontrei seu blog lá no Kapanga do Kapeta e vim te conhecer.. já conhecia esse aê do Jabor, mas isso não retira o brilho desse espaço.


Em tempo,


Tem pergunta para você lá no AveSSo... passa por lá.

Oportunidade ao bom pensar.

Se você deixasse de existir amanhã que falta faria ao mundo?


[ http://oavessodavida.blogspot.com/ ]

O AveSSo dA ViDa - um blog onde os relatos são fictícios e, por vezes, bem reais...

10:23 PM  
Blogger Bárbara Lemos said...

Nossa.. quantas definições, fiquei tonta até. rs

3:01 AM  
Blogger Unknown said...

Quando eu era criança brincava de médico escondido dos adultos porque sabia que eles achavam feio aquela brincadeira tão gostosa. Costumava brincar de casinha e nela haviam duas esposas que se davam muito bem comigo e entre si. Eu fazia sexo mas não sabia que se chamava sexo. Eu amava, era apaixonado, mas não buscava explicações: Apenas aproveitava cada minuto que eu pudesse beijar boca, nuca, mão e aquela rosa perfumada que eu mal sabia o nome. Vivia inteiro, sem separações: O Amor era a Paixão, a Paixão era Sexo, não haviam separações. Hoje cresci e transformei aquela gostosa brincadeira em um quebra-cabeças que não consigo resolver e o mais estranho: Fui eu quem transformei a brincadeira em briquedo.

10:43 AM  

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